segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Anjos da Guarda


Os Anjos da Guarda na Voz dos Santos e Doutores



Santo Hilário
Bispo de Poitiers, Padre e doutor da Igreja.
* 315 em Poitiers (França).
+ 367 (mesmo lugar).
Os Anjos nos ajudam em nossa luta para nos mantermos fortes contra os poderes do mal. (...) Os puros espíritos foram enviados para o resgate da raça humana. Na verdade, pela nossa fraqueza, se os Anjos não viessem em nosso socorro, não poderíamos resistir aos ataques dos espíritos malignos. Precisamos da ajuda de uma natureza superior. Sabemos que foi com estas palavras que o Senhor fortaleceu Moisés, que tremia e temia: "Meu Anjo irá diante de ti.”. 
(Comentários dos Salmos 65 e 134.)


São Basílio 
Bispo de Cesareia, pai do monaquismo oriental e doutor da Igreja.
* 329 em Cesareia na Capadócia (Turquia).
+ 379 (mesmo lugar).
Entre os Anjos, alguns trabalham especialmente junto às nações, outros como companheiros dos fiéis. Todo crente tem um Anjo para guiá-lo como mestre e pastor; é o que nos ensina Moisés (Gn. 48,16).

Que cada fiel seja assistido por um Anjo, como mestre e protetor, que lhe reja a vida, ninguém, o poderá negar, se si lembrar das palavras do Senhor quando disse: Não desprezeis ao menor desses pequeninos; seus Anjos contemplam a face de meu Pai que está nos Céus.
(Contra Eunon, 1. III, n. 1.)


Orígenes
Teólogo e Padre da Igreja.
* 185 em Alexandria (Egito).
+ 253 em Tiro (Líbano).
Junto a cada homem existe sempre um Anjo do Senhor que o ilumina, o guarda e o protege de todo o mal.

Somos também devedores de nosso Anjo da Guarda, que contempla sempre o rosto do Pai que está nos Céus.
(Tratado sobre a oração, 28, 3.)


São Gregório Nazianzeno
Patriarca de Constantinopla e Padre da Igreja.
* 329 em Arianzo, na Capadócia (Turquia).
+ 389 (mesmo lugar).
Deus não deixou nossa franqueza sem ajuda; mas, destinou-nos um Anjo para auxiliar a vida de cada um de nós, e esse Anjo é de natureza totalmente incorpórea.
(De vita Moysis.)


São João Crisóstomo
Patriarca de Constantinopla e Padre e doutor da Igreja.
* Entre 344 e 354, em Antioquia (Síria).
+ 407 na Capadócia (Turquia).

Dirigindo-se aos fiéis em uma igreja dedicada aos mártires:
Sim, os Anjos estão aqui presentes; nesta reunião estão os Anjos e mártires. Querem vê-los? Então abram os olhos da fé, e contemplem o espetáculo. A atmosfera está repleta de Anjos (...). É tão verdade que o ar está povoado de Anjos, que o Apóstolo mostra-nos isso quando instrui as mulheres a que usem um véu sobre suas cabeças: "As mulheres devem ter um véu sobre a cabeça por causa dos Anjos" (1 Cor. 11,10). "Um Anjo, disse Jacó, protegeu-me desde a minha juventude" (Gn. 48,16).

De outra homilia sua:
O que é melhor? Falarmos sobre o vizinho e de negócios, ou de curiosidades? Ou falarmos dos Anjos, que são seres de singular riqueza?


São Jerônimo 

Sacerdote, Padre e doutor da Igreja.
* Por volta de 347 em Stridon (Dalmácia).
+ 419 em Belém (Palestina).

Tão grande é a dignidade de cada alma, que ao nascer tem um Anjo destinado para sua guarda.
(In c. 18, Matth., sent. 99, Trie. T. 5, p. 256.)


Santo Ambrósio
Arcebispo de Milão (Itália), Padre e doutor da Igreja.
* 340 em Tréveris (Alemanha)
+ 397 em Milão (Itália)
Como podem os Anjos estar longe, quando nos foram dados por Deus para ajudar-nos? Eles não se apartam de nós, embora aquele que é assaltado pelas tentações, pense que estão longe...
(In Sl 37, 12.)


Santo Agostinho
Bispo de Hipona (Numídia), Padre e doutor da Igreja.
* 354 Tagaste (Numídia).
+ 430, em Hipona (África).

Toda coisa visível neste mundo é confiada a um Anjo.
(Oito Perguntas de Dulcício.)

Comentando o Salmo 103:
Conhecemos pela fé que existem os Anjos e lemos que estes apareceram a muitos, de maneira que não nos é lícito duvidar deles.

Formamos com os Anjos uma única cidade de Deus... da qual uma parte somos nós, peregrinos por este mundo, e a outra que são os Anjos, sempre prontos a nos socorrer.
(De Civitate Dei.)


São João Damasceno
Monge, Padre e doutor da Igreja.
* 650 em Damasco (Síria).
+ 750 perto de Jerusalém (Palestina).
Eles [os Anjos] são poderosos e estão prontos para cumprir a vontade de Deus. Também se deslocam rapidamente para onde Deus os ordenar. Eles mantêm a terra, presidem países e regiões. O Criador estabeleceu que eles devem levar até Ele nossos pedidos a fim de nos ajudar. 


São Bernardo
Monge cisterciense, fundador da Abadia de Claraval, o berço dos reformadores beneditinos de Cister, doutor da Igreja.
* 1090 em Fontaine-lès-Dijon (Côte-d'Or).
+ 1153 em (Aube) Claraval.
Deus ordenou aos Anjos que te guardasse em teus caminhos. Estas palavras devem inspirar-te um grande respeito, devem infundir-te uma grande devoção e conferir-te uma grande confiança. Respeito pela presença dos Anjos, devoção por sua benevolência, confiança pela sua guarda. Porque eles estão presentes junto de ti, para teu bem. Estão presentes para te proteger, em teu benefício. E, ainda que estejam porque Deus lhes ordenou, nem por isso devemos deixar de lhes agradecer, pois cumprem com muito amor esta ordem e nos ajudam em nossas necessidades, que são grandes.

Ainda que sejamos menores de idade e ainda que tenhamos que percorrer um caminho tão largo e perigoso, nada devemos temer sob a guarda de guardiães tão exímios. Eles, os que nos guardam em nossos caminhos, não podem ser vencidos nem enganados, e menos ainda podem enganar-nos. São fiéis, são prudentes, são poderosos. Porque nos assustarmos? Basta que os sigamos, que nos unamos a eles, e viveremos assim, à sombra do Onipotente.
(Sermão 12, sobre o Salmo 91.)


Santo Anselmo
Monge de Bec (Normandia), Arcebispo de Canterbury (Inglaterra), doutor da Igreja.
* 1033 em Aosta (Piemonte, Itália).
+ 21 de abril de 1109 em Canterbury.
Que os vossos diálogos sejam sempre puros e que tratem sobre Deus; tomai como modelo os Anjos do Céu. Exceto nos cuidados que exige a fragilidade da natureza humana, vivei sempre (com o pensamento) no Céu, na consideração e imitação dos Anjos. Que esta contemplação seja a vossa soberana, que esta consideração seja a vossa regra.

Permanecei em harmonia com a vida angélica; odeiem o que se afasta dela. Pensai que os vossos Anjos - como declarou o Senhor - “contemplam incessantemente a face de meu Pai”, sem deixarem de estar presentes, vendo as vossas ações e os vossos pensamentos. Tende sempre o cuidado de viver como se experimentassem sensivelmente a presença deles.
 
(Saint Anselme, Un croyant cherche à comprendre, Paris, le Cerf, 1970, Epître 230. (Chrétiens de tous les temps, 40).)


São Tomás de Aquino 

Frade Dominicano e doutor da Igreja.
* 1225 em Rocasecca (Itália).
+ 1274 em Fossanova (Itália).
Os homens podem desprezar as inspirações que os Anjos bons lhes dão invisivelmente, iluminando-os para operar o bem; porém o livre arbítrio continua intacto. Por isso que, ao se condenar um homem, não se pode atribuir à negligência dos Anjos, mas tão somente à malícia dos homens.
(Suma Teológica 1, q. 113, a. I ad 2.)


Santa Francisca Romana
Casada e mãe de três crianças que faleceram bem cedo. É a fundadora da Congregação dos Oblatos Beneditinos.
*1384 em Roma (Itália).
+1440 (mesmo lugar).

O Anjo de Santa Francisca Romana
Santo Francisca Romana teve três crianças, dois filhos e uma filha, que criou no temor de Deus e na prática piedade. O mais novo viveu como um anjo e morreu aos nove anos. Pouco depois da sua morte, apareceu à sua mãe resplandecente de beleza. Falou-lhe da felicidade que provava ao Paraíso, e mostrou-lhe um homem belo e jovem que se encontrava ao seu lado: “Eis, disse, um Arcanjo enviado por Deus para assisti-la e acompanhá-la dia e noite.”.

Desde então, Francisca teve a consolação de ver o Arcanjo constantemente junto dela, de maneira sensível. Ele a advertia de suas faltas e, até mesmo, a punia. Um dia, na presença da santa, algumas pessoas matinham uma conversação frívola. Francisca teve o bom pensamento de interrompê-la; mas, retida pelo temor, hesitou… O seu Anjo aplicou-lhe sobre a face uma bofetada.

Tinha também a missão de protegê-la contra as investidas de Satanás, que, por inveja de sua santidade, enfurecia-se contra ela, lançava-a por terra, arrastava-a pelos cabelos e golpeava-a brutalmente.
(Canon Millot, Tesouro de Histórias para a Explicação da Doutrina Cristã, T.1. Paris, Lethielleux de 1909.)


São João da Cruz
Reformador da Ordem Carmelita e doutor da Igreja.
* 1542 em Fontiveros (Castela Velha, Espanha).
+ 1591 em Ubeda (Andaluzia, Espanha)

Parecer:
220. Os Anjos são os nossos pastores, eles não só levam a Deus nossas mensagens, como nos trazem também as de Deus. Eles alimentam nossas almas com suaves inspirações e comunicações divinas. Deus se vale deles para se comunicar conosco. Como bons pastores, protegem-nos e defende-nos contra os lobos, ou seja, os demônios.

221. Através de suas secretas inspirações, os Anjos procuram dar à alma um conhecimento mais elevado de Deus; abrazam-no de uma chama viva de amor para com Ele; até deixá-lo “ferido” de amor.

222. A mesma sabedoria divina que, no céu, ilumina os Anjos e os purifica de qualquer ignorância, ilumina também os homens sobre a Terra e o purifica dos seus erros ou imperfeições; se estende desde as primeiras hierarquias dos Anjos até as últimas, e por estas chega até o homem.

223. A luz de Deus ilumina o Anjo penetrando seu esplendeor e abrazando-o do seu amor, porque o Anjo é um puro espírito já disposto a esta participação divina. O mesmo não se dá com o homem, pois nele a iluminação é obscura, dolorosa e penosa, porque o homem é impuro e fraco, assim como a luz do sol não consegue iluminar olhos enfermos, e os faz sofrer.
224 Porém, quando o homem é realmente espiritual e está transformado pelo amor divino, que o purifica, recebe a união e a amorosa iluminação de Deus com uma suavidade semelhante à dos Anjos.
(Saint Jean de la Croix, Oeuvres spirituelles, Paris, Le Seuil, 1947. Avis et maximes, "Autres avis et maximes", chapitre VII : Des Anges.)


São Pedro de Alcântara
Frade franciscano.
* 1499 em Estremadura (Espanha).
+ 1562 em Arenas de São Pedro (Espanha).
Considera também que nem o demônio, nem qualquer outra coisa, pode nos prejudicar sem licença de Nosso Senhor. Também considera que temos o Anjo de nossa guarda ao nosso lado, sobretudo durante a oração, porque ali está ele para nos ajudar e levar nossas orações ao céu e defender-nos do inimigo, que não pode fazer mal a nós.
(Tratado da Oração e Meditação.)


São Pedro Damião
Cardeal e doutor da Igreja.
* 1007 em Ravena.
+ 1072 em Óstia.
Todos os dias ofendemos de muitas maneiras os Anjos de nossa Guarda, e às ofensas ajuntamos a negligência em arrependermo-nos, mas eles, se bem que ultrajados pelas nossas injúrias, nos toleram e de nós se compadecem em nossas quedas.
(Serm. XLIII de Exalt. Crucis.)


São João Maria Vianney
Cura de Ars-sur-Formans.
* 1786 à Dardilly, perto de Lyon.
+ 1859 em Ars-sur-Formans.
O Anjo da Guarda está continuamente ao nosso lado para nos levar ao bem e defender-nos contra os anjos maus, que, incessantemente, rondam ao nosso redor para nos levar ao mal.
(Le Prêtre de Village, Jean-Marie-B. Vianney, par une Société, d'après les mémoires de
 M. Pierre Oriol et autres, Imprimerie administrative, Vve Chanoine, Lyon, 1875.)

 
É necessário, de manhã, ao acordar, oferecer a Deus o seu coração, o seu espírito, os seus pensamentos, as suas palavras, as suas ações, tudo mesmo, para servir unicamente à sua glória. Renovar as promessas do seu batismo, agradecer o seu Anjo da Guarda, e pedir proteção a este bom Anjo, que permanece ao lado de nós durante o nosso sono.

Se você está impossibilitado de orar, enconda-se atrás de seu bom Anjo e encarregue-o de rezar no seu lugar.
(Abbé A. Monnin, Esprit du Curé d'Ars, M. Vianney dans ses catéchismes,
ses homélies et sa conversation, Téqui, Paris, 1975 (50° mille).)


Santa Gemma Galgani 

Virgem secular.
* 1878 na Camigliano (Toscana, Itália)
+ 1903 na Itália.
O texto abaixo é do Revmo. Pe. Germano de Santo Estanislau C.P., diretor espiritual de Santa Gemma.

Dado que Gemma encontrava-se predestinada a um grau muito elevado de felicidade celestial, era natural e conforme à Sabedoria divina que o Anjo nomeado para sua guarda tivesse dela um cuidado muito especial. A graça, que se manifestava além disso nesta alma afortunada em fenômenos tão prodigiosos, ia tomar corpo, de uma maneira não menos prodigiosa, na assistência do seu bom Anjo. (...)

Mais impressionante, neste suave comércio, era a presença sensível e quase contínua do Anjo. Gemma via-o através de seus olhos corporais, tocava-o pelas suas mãos, como uma pessoa viva, vinculava conversação com ele como com um amigo. “Jesus, escrevia-me, não o vejo há seis dias; mas não me deixou completamente só; o Anjo da Guarda continua de pé, visível, perto de mim.” Com quanta efusividade dava graças a Deus por este benefício, e testemunhava ao espírito que a protegia o seu reconhecimento! “Se algumas vezes sou má, caro Anjo, não se zangue; quero mostrar-lhe minha gratidão. / Sim, respondia o guarda celestial, serei o teu guia e o teu companheiro inseparável.”

O Anjo da Guarda de Gemma a vigiava, fazia-lhe café, explicava-lhe os Mistérios, abraçava-a, mas sobretudo ajudava-a melhor sofrer por amor a Cristo. 

“O Anjo olhava-me, assim, afetuosamente! E quando chegou o momento de partir, enquanto aproximava-se de mim para beijar minha fronte, pedi que não me deixa-se ainda. Mas ele me disse:

- É necessário que eu vá!
- Então vá e sauda Jesus.

“Lançou-me um último olhar, dizendo-me:
“Não quero mais que você mantenha conversações com as criaturas; quando quiseres falar, fala com Jesus e com o teu Anjo.

“No dia seguinte, à mesma hora, ei-lo outra vez. Aproximou-se de mim, acariciou-me e, com afeição, não pude deixar de dizer-lhe:

- Ó meu Anjo, como eu te amo!”

Apesar de leiga, a bela virgem foi canonizada apenas 37 anos após sua morte. Devido a vários sinais sobrenaturais e curas inexplicáveis, Roma interessou-se por seu caso em 1917. Foi proclamada santa em 26 de março de 1936. Desde então, seu rosto continua a fascinar as multidões...
(R.P. Germain de Santo-Estanislau c.p. (director espiritual Gemma), a séraphique virgem de Lucques,
Gemma Galgani, Arras, Brunet, 1910. / In Pierre Jovanovic, Enquête sur l'existence des Anges gardiens
 Chap. 9: "Des stigmatisés et des Anges". Réédition enrichie: Le Jardin des livres, 243 bis Boulevard Pereire, 75017
Paris / http://www.lejardindeslivres.com.)


São Padre Pio 

Sacerdote capuchinho.
* 1887 em Pietrelcina (Benevento, Itália)
+ San Giovanni Rotondo (Itália)
Carta datada de 20 de abril de 1915, dirigida a Raffaelina Cerasi:

Ó Raffaelina, como é consolador saber que continuamos sob a guarda de um Anjo celestial que não nos abandona, mesmo (coisa admirável!) quando fazemos algo que desagrada a Deus… Tome o belo hábito de sempre pensar nele. Ao nosso lado, há um espírito celestial que, do berço ao túmulo, não nos deixa um só momento, que nos guia, nos protege como um amigo, como um irmão, que também nos consola sempre, especialmente nas horas que são, para nós, mais tristes. Saiba, Ó Raffaelina, que este bom Anjo ora por você, oferece a Deus todas as suas boas obras, os seus desejos santos e puros. Nas horas em que lhe parecer só e abandonada, não sinta pelo fato de não ter uma alma amiga, a quem possa abrir-se e a quem possa confiar os seus problemas; por caridade, não esqueça este invisível companheiro, sempre presente para ouvi-la, sempre pronto para consolá-la. Oh, deliciosa intimidade! Oh, feliz companhia!…

Correspondência do Padre Pio, recolhidos por Jean Derobert, Ed Hovine, 1987:

Lembre-se que estamos com Deus, quando nossa alma está em estado de graça, e longe dele, quando estamos em estado de pecado grave, mas seu Anjo - o nosso Anjo da Guarda - nunca nos abandona... É nosso amigo, o mais seguro e sincero, quando não estamos errados, (e também o é) para lamentar por nosso mau comportamento.
(Padre Pio, um Pensamento por Dia - Paris, Médiaspaul, 1991.)



FONTES:

http://www.spiritualite-chretienne.com/anges/ange-gardien/citatio1.html

http://www.filhosdapaixao.org.br/escritos/comentarios/escrituras/escritura_0031.htm
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quarta-feira, 16 de maio de 2012



Santa Maria, Mãe da Estrada!

Os passageiros foram se acomodando e observei um jovem, que iria ocupar um assento ao meu lado, durante uma viagem ao continente africano.

Brasileiro, do interior do Rio Grande do Sul, e essa era sua primeira experiência para o exterior do país. Seu destino: Índia. Havia recebido uma oferta de trabalho e queria tentar a vida em novas terras. Um desafio e tanto, pois apesar de ter algumas noções do inglês, ainda, não dominava essa língua. Conversamos um pouco durante o voo: sua origem, familiares, esperanças e desafios.

Fomos brindado por uma linda aurora, quando deixávamos o deserto da Namíbia. Olhava para meu companheiro e percebia que a preocupação aumentava em seu semblante, especialmente, quando desembarcamos em Johannesburgo, na África do Sul.

Natural! O aeroporto de Tambo é conhecido como a janela do Oriente, pois é lugar de escala para os mais variados países árabes, asiáticos e há uma confluência de etnias, costumes e línguas. Talvez ele medisse, naquele momento, a aventura em que estava inserido. E... quem sabe pensava na sua doce e pequena cidade, gaúcha, escondida entre as serras.

Deixei com o nosso jovem “desbravador” a Medalha Milagrosa, dizendo: Veja bem! Mantenha-a sempre com você, até sua volta ao Brasil. Ela será seu refúgio e sua proteção, tenha certeza. Olhou-me e prometeu firmemente que não a deixaria um só minuto. E nossos caminhos se separaram...

Enquanto espera outro voo para Maputo, pensava em nossos caminhares. Estamos sempre nos deslocando, andando, andando. Pequenos deslocamentos, grandes caminhadas..., não importa. Nossas vidas desde nosso nascimento é um contínuo peregrinar, rumo à pátria celeste.

Essa ideia me acompanharia durante toda estada na capital Moçambicana. Do aeroporto fui diretamente a um enterro. Um jovem de uma família amiga, que subitamente tivera um mal estar. Foi-lhe diagnosticado um derrame cerebral, devido a um problema congênito. Católico praticante, recebeu a Unção dos Enfermos e partiu para a eternidade com sua alegria e juventude habitual, como as flores que encontramos nas savanas, cheias de luzes e cores.

Chegamos a uma casa pobre, entramos em um salão onde no centro se encontrava a urna do nosso querido Helder, muito devoto de Nossa Senhora. À sua volta como numa corola de uma grande flor espalhava-se sentadas no chão mulheres, vestidas com suas capulanas, que rezavam e cantavam. Canto triste que marcava o fim de uma peregrinação. Pungente era observar a mãe, do menino morto, revestida de dor e saudades. A dor da caminhada!

O cortejo fúnebre dirigiu-se ao cemitério e lá os próprios familiares fizeram o sepultamento. Uma cena tocou-me profundamente: A própria mãe ao final, após a terra ser colocada sobre o jazigo, arrumava com suas mãos a sepultura. Havia tanta ternura naquele gesto, nas mãos que acariciavam a terra arenosa, tinha-se a impressão que ela estava arrumando o leito do seu querido filho, como o fizera tantas e tantas vezes em vida.

Esse era o fim de uma caminhada, para aqueles que não têm fé, sim. Sabíamos nós que não é assim. E dentro da separação, a liturgia das exéquias nos apontava a luz da ressurreição: “Bem-aventurados, aqueles que dormem no Senhor”.

Nesse curto espaço de tempo, menos de 24 horas, encontrei dois destinos. O primeiro apontava à conquista, a esperança, a incerteza. O segundo para o termo de um vida colhida naquele Amor, onde nada nos pode separar.

Um denominador comum unia essas duas existências, a nossa existência. É a proteção maternal da Mãe de todas as Mães. Mãe de Deus e Senhora Nossa. Mãe de nossas caminhadas, Mãe que continuamente nos vela, protege, ampara e peregrina conosco noite e dia, dia e noite. Mãe do peregrino, Mãe da estrada!

terça-feira, 27 de março de 2012

O uso das Medalhas


São devoções que nos ajudam em nosso dia-a-dia: nos perigos, aflições e nos remete junto de Deus!

Seria interessante imaginar como ocorreu ao primeiro ser humano a ideia de usar um adorno. Ao que tudo indica, o primeiro enfeite teria nascido de um entrelaçamento de ramos de flores, dando origem a um diadema, um colar ou algo do gênero. Posteriormente, pedras, ossos e chifres deram lugar a colares, pulseiras e capacetes. No entanto, quando começaram a surgir os primeiros objetos de metal, a arte humana passou a produzir ornamentos de variadas formas e valores. E entre eles, as medalhas se tornaram especialmente populares.
Antiguidade do uso de medalhas cristãos
Seja ao redor do pescoço, no pulso ou de qualquer outra forma, desde os primeiros tempos da era cristã havia o piedoso uso de medalhas como objetos de devoção. Foi uma forma evangelizadora de instruir os neoconvertidos à fé e aumentar-lhes a estima por Nosso Senhor, Nossa Senhora, os Anjos e Santos. Pouco a pouco os recém-batizados iam trocando amuletos e fetiches pagãos por cruzes e medalhas.
Medalhas.png
Na Idade Média, o uso de medalhas tornou-se ainda mais comum, sobretudo como devoção popular. Quem as portava atribuía a elas proteção especial, invocando o santo da medalha para livrar-se das tentações, de criminosos, peste, lepra e outros males. A medalha de São Bento, repleta de símbolos e inscrições, é um belo exemplo desse costume.

Nessa época também se tornou comum aos Santuários Marianos cunharem medalhas comemorativas, exibindo a efígie de Maria Santíssima, sob uma invocação específica.

No século XV, a Igreja mandou cunhar e distribuir a medalha do jubileu, costume que se estende até os nossos dias.

As medalhas são verdadeiros sacramentais

Como nos ensina o Compendio do Catecismo da Igreja Católica, as medalhas católicas por serem bentas, são verdadeiros sacramentais, ou seja, “sinais sagrados instituídos pela Igreja por meio dos quais se santificam algumas circunstâncias da vida. Compõem-se de uma oração acompanhada pelo sinal-da-cruz e por outros sinais. Entre os sacramentais ocupam um lugar importante as bênçãos, que são um louvor de Deus e uma oração para obter os seus dons, as consagrações das pessoas e as dedicações de coisas ao culto de Deus” (§351).

O Catecismo da Igreja Católica faz questão de salientar que “Além da liturgia sacramental e dos sacramentais, a catequese tem de levar em conta as formas da piedade dos fiéis e da religiosidade popular. O senso religioso do povo cristão encontrou, em todas as épocas, sua expressão em formas diversas de piedade que circundam a vida sacramental da Igreja, como a veneração de relíquias, visitas a santuários, peregrinações, procissões, via-sacra, danças religiosas, o rosário, as medalhas etc.” (§1674).

Medalhas de São Bento, São Miguel Arcanjo, Santo Antônio, Nossa Senhora Aparecida e Nossa Senhora das Graças (medalha milagrosa), uma vez abençoadas, são exemplos de sacramentais. Como tais, conferem bens espirituais (ex: predispor a alma para receber graças) e bens temporais (ex: proteção).

Medalha Milagrosa: uma das mais populares entre os católicos

Medalha Milagrosa.jpgA medalha milagrosa de Nossa Senhora das Graças é uma das mais populares entre os católicos apostólicos romanos, quiçá seja a mais popular. Desde o século XIX, quando a Santíssima Virgem ordenou a Santa Catarina Labouré que a medalha fosse cunhada, o número de medalhas distribuídas é incontável. Em 1876, ano da morte de Santa Catarina, já se contabilizava mais de um bilhão.

As primeiras medalhas foram cunhadas pela Casa Vachette, em número de 20 mil e eram conhecidas pelo nome de “medalhas da Imaculada Conceição”. As Filhas da Caridade foram as responsáveis pela distribuição, e logo puderam observar um sem número de graças e milagres. Em apenas sete anos, mais de dez milhões de medalhas foram distribuídas pelo mundo todo. Em pouco tempo, os fiéis passaram a chamá-la de “medalha milagrosa”.

Da Redaçã

sexta-feira, 16 de março de 2012

Quanto necessitamos de ajuda, proteção, em nossas angústias e aflições. A solução está aqui!


Seguro protetor em nossas aflições

Sao Jose.jpgJunto ao azul do Adriático, encontramos num povoado pertencente à comuna de Ancona, na região da Marche, um edifício imponente que se lança ao céu e acolhe, com maternal bondade, a milhares de peregrinos que ali vão para venerar uma relíquia: A Casa Santa de Loreto. Ela está incrustada dentro do Santuário, adornada de mármores. Pequena, mas com um significado que toca o infinito. Em suas paredes pode-se divisar: Hic Verbum caro factum est!Aqui o Verbo se fez carne!

Ali viveram Jesus, Maria e José!

Imaginemos uma tarde de outono, nessa humilde habitação em Nazareth, onde o sol diáfano se mistura com as cores e os perfumes das árvores frutíferas. Sentado à beira da porta está o Menino Deus a espera de seu pai: José. Ele espreita a estrada, contempla o céu e de repente vê ao longe São José que se aproxima. Sai correndo ao seu encontro e o abraça. Caminham juntos de mãos dadas conversando sobre os acontecimentos diários. O dois, pai e Filho, divisam na janela, dessa humilde habitação, Maria que sorri e os espera, para o jantar...

Ele, José, o pai adotivo do Verbo Encarnado, esposo da Virgem Maria. Difícil é comensurar a grandeza dessa alma que foi escolhida por Deus para desempenhar esse papel. Hernest Hello (Physionomies de Saints, Paris, 1875)considera que São José é a sombra do Pai! A pessoa onde se projeta a sombra do Pai densa e profunda. É o homem do silêncio, aquele que mal é tocado pela palavra. Sempre sóbrio em palavras, envolto num santo silêncio. Silêncio de louvor!

No Evangelho temos apenas essa referência: Era um homem justo. Essa justiça é santidade, união com a vontade de Deus, fidelidade ao cumprimento da missão que lhe fora outorgada e sobretudo o amor na realização dos desígnios divinos. Quanta dor e quanto amor vendo a um Deus-Menino nascer na pobreza. Presenciar as primeira gotas do Preciosíssimo Sangue de Jesus a correr por ocasião da circuncisão. Ouvir a profecia do velho Simeão ao predizer os sofrimentos de Jesus e Maria. A fuga ao Egito, a perda e o encontro de seu Filho querido no Templo. Uma vida de amor e holocausto vivida dentro da contemplação.

Patrono da Santa Igreja, patrono da família, patrono dos trabalhadores, patrono da boa morte. Poderoso intercessor junto a Deus em favor de nossas necessidades. Ouçamos o o conselho que nos dá a grande Tereza de Ávila, sobre a intercessão de São José:

Tomei por advogado e senhor ao glorioso São José e encomendei-me muito a ele. Vi claro que, tanto desta necessidade como de outras maiores, de perder a honra e perder a alma, este pai e senhor meu me livrou melhor do que eu lhe saberia pedir. Não me recordo, até agora, de lhe haver suplicado nada que não tenha deixado de fazer.

Padre Hamilton Naville.jpgContinua a santa carmelita: É coisa que espanta (que maravilha) as grandes mercês que me tem feito Deus por meio deste bem-aventurado santo, dos perigos que me tem livrado, tanto de corpo quanto de alma. A outros santos parece que o Senhor lhes deu graça para socorrer em uma necessidade; a este glorioso santo tenho experiência que socorre em todas e que quer o Senhor dar-nos a entender que assim como esteve submetido a ele na terra, que como tinha nome de pai - sendo custódio - podia mandar Nele, também no céu faz quanto lhe pedem. E isto o tem comprovado algumas pessoas, a quem eu dizia que se encomendassem a ele, também por experiência; e ainda há muitas que começaram a ter-lhe devoção havendo experimentado.

Insiste a Doutora da Igreja e com humildade aconselha: Se fosse uma pessoa que tivesse autoridade no escrever, de bom grado me estenderia em dizer muito a miúdo as mercês que este glorioso santo tem feito a mim e a outras pessoas. Só peço, pelo amor de Deus, que o prove quem não me crê e verá por experiência o grande bem que é o encomendar-se a este glorioso Patriarca e ter-lhe devoção. Pessoas de oração, em especial, sempre deveriam ser a ele afeiçoadas. Não sei como se pode pensar na Rainha dos Anjos, no tempo que passou com o Menino Jesus, e não se dar graças a São José pelo bem com o qual lhes ajudou. Quem não encontrar mestre que lhe ensine oração, tome este glorioso santo por mestre e não errará no caminho (Santa Teresa de Jesus, Vida 6,6,8).

Tratemos de provar esse amor tão poderoso que vem de um coração que tanto fez por Jesus e Maria!
Pe. Hamilton José Naville

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A Flor da Quaresma



Cristo - Quaresma.jpgCausa alegria a abundância de formas e cores que encontramos na Mata Atlântica, na descida ao mar. Sobretudo quando a floresta se reveste de festa e se apresenta adornada de lilás. Domina a Quaresmeira, uma espécie típica da região, que também é conhecida como: flor-de-maio, manacá-da-serra, jacatirão-de-capote, pau-de-flor e flor-da-quaresma.

Essa árvore leva o nome de quaresmeira, pois floresce, próxima, ao Tempo Litúrgico em que a Santa Igreja dá início aos quarenta dias, que antecedem a Semana Santa denominado de Quaresma. Todo o panorama fica tingido por infinidades de flores brancas e roxas. Nascem com a cor da pureza e terminam com a da penitência.

A natureza, como que, celebra esse tempo forte do Ano Litúrgico, onde os paramentos são de cor roxa e os fiéis são convidados a reflexão, oração, ao jejum e abstinência. Da-se início na Quarta-feira de Cinzas e se estende até o Domingo de Ramos.

Esses quarenta dias são para lembrar: os quarenta dias do Dilúvio, a peregrinação do povo judeu pelo deserto durante os 40 anos, os profetas Elias e Moisés que se retiraram ao monte por 40 dias. A oração de Nosso Divino Salvador durante 40 dias, antes de sua vida pública, entre outras passagens das Sagradas Escrituras.

A imposição das cinzas é feita durante a celebração litúrgica, onde cada fiel é marcado na fronte com uma cruz com as cinzas dos ramos, guardados para essa ocasião, do Domingo de Ramos. Ouviremos, durante a Missa, ao profeta Joel dizendo: “Agora, diz o Senhor, voltai para mim com todo o vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos; rasgai os vossos corações e não as vestes, e voltai para o Senhor o vosso Deus...” (Joel,2,12-18).

O Sacerdote ao traçar a cruz em nossas testas dirá: “Lembra te homem, que do pó vens, e para o pó voltarás”. A imposição, nos lembra como é efêmera nossa vida sobre a terra e  passa rápido, como a flor do campo que de manhã desabrocha e à tarde já não existe mais. Fala-nos de batalha e luta, como as teve Nosso Senhor no deserto ao enfrentar o demônio.

Assim nos ensina o Papa Bento XVI:  “Quaresma recorda-nos que a existência cristã é um combate incessante, no qual devem ser utilizadas as "armas" da oração, do jejum e da penitência. Lutar contra o mal, contra qualquer forma de egoísmo e de ódio, e morrer para si mesmos para viver em Deus é o itinerário ascético que cada discípulo de Jesus está chamado a percorrer com humildade e paciência, com generosidade e perseverança" (Papa Bento XVI,homilia, Basílica de Santa Sabina, 1º de Março de 2006).

Tempo de revermos nossos caminhos, tempo de oferecermos sacrifícios por nossos pecados e pelos alheios. Tempo augusto que nos preparará para irmos ao encontro de Nosso doce Redentor na Cruz do Calvário, onde morreu por nossa Redenção.

Tempo de estarmos unidos a Maria, Mãe das Dores, e com Ela percorremos a Via Dolorosa, na certeza que depois das lutas, sofrimentos e dores dessa vida encontraremos Jesus Ressuscitado!
Pe. Hamilton José Naville

sábado, 7 de janeiro de 2012

O silêncio


Venho compartilhar com vocês uma experiência que alguns possam, já, ter vivido: o silêncio.

Sim! O silêncio que não se trata propriamente da ausência de ruídos. Também o é, mas especialmente refiro-me a ação da graça em nossas almas.

Claro que existe um silêncio que nos ajuda a meditar, a contemplar e necessário é, para isso, isolarmo-nos dos sons estridentes das cidades grandes: motores, aglomerações, músicas que desrespeitam toda regra da harmonia, a própria velocidade da vida moderna...
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Recentemente voltando de Santiago do Chile, onde fomos participar de um congresso católico sobre comunicação digital, nosso avião sobrevoou as famosas Cordilheiras dos Andes. Estava eu num lugar privilegiado, junto a uma janela, e diante dos meus olhos passava um panorama de sonhos.

Eram montanhas, caprichosamente, adornadas com neve. Faziam-me lembrar bolos confeitados com puro chantili. Reportavam-me à grandeza de um Deus criador de todas as belezas. E sentia desde nossa cabine o silêncio e o mistério daqueles cumes que em muitos, certamente, o homem não pisou.

Trouxe-me também outra impressão, recente, irmã desse esplendor que se descortinava sobre os meus olhos. Refiro-me à visita que fiz ao convento onde viveu  Santa Teresa dos Andes. Um prédio pobre, mas mergulhado na riqueza das bênçãos Divina.

Visitamos a gruta em que Santa Teresa teve a revelação de sua morte! A palmeira onde se apoiava quando rezava a Nossa Senhora de Lourdes. Os corredores por onde andou, a capela onde rezou. Em uma palavra, sentimos Deus muito perto de nós. Convivemos com os anjos que lá habitam.

Silêncio e paz reinavam, ali. Alegria de almas que viveram na virtude, recolhidas, orantes e tendo como fundo as montanhas nevadas. Habitação de santos!

Estando, nesse antigo monastério carmelita, pensei em todos os participantes de nossa querida Associação Nossa Senhora das Graças e resolvi escrever esse artigo, para transmitir um pouco desse ambiente sobrenatural.

Em uma de suas catequeses, o Papa Bento XVI tratando sobre o tema disse:

 “O silêncio é a condição ambiental que melhor favorece o recolhimento, a escuta de Deus, a meditação. Já o fato de apreciar o silêncio, para deixar-se, por assim dizer, "encher-se" pelo silêncio, predispõe-nos à oração.”

Sigamos esse conselho vindo da Cátedra de Pedro! Procuremos em nossas vidas esses momentos de reflexão, de oração e aí encontraremos, também, Maria Santíssima.

Lembremo-nos de Santa Catarina Labouré, que encontrou Nossa Senhora dentro do recolhimento e oração. Façamos, então, o mesmo!
Um grande abraço a todos.

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Pe. Hamilton José Naville